terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Tô feliz!!!!


Gente, eu tô feliz! Aos poucos vou encontrando meus espaços e me sentindo parte dessa cidade tão, tão, tão diferente da minha. Fazendo amizades com garçons, padeiros, com o chino da esquina, com o mendigo que mora na minha estação de metrô, com os velhinhos do bairro, com o cara da biblioteca, com... ai, tá bom.
Além do que, estar sozinha me faz bem. Adoro cuidar da minha vida, fazer as compras, escolher o que vou botar na minha geladeira, decidir o rumo do dia, a hora da faxina, de lavar a louça e a roupa, a hora do almoço, o prato do dia...
"Eu quero é botar meu bloco na rua, brincar..."

Sol Maior


Hoje surdo, ele, com 91 anos, se lembra de sua juventude. Nunca conseguiu ser atrevido, fez tudo como manda o figurino: estudou, casou-se, teve filhos, netos, passou a vida ao lado de sua mulher... mas, pensando bem, não fez o que queria. Queria ter sido um aventureiro. Seu maior sonho era ter conhecido Marrocos, seus mistérios, sua gente, seus cheiros e sua música. Sua música, em especial.

Durante toda a vida, além do trabalho cotidiano, aquela labuta necessária para alimentar os filhos, foi músico. Tocou de tudo, embora o violino sempre tenha sido sua maior paixão. Passava horas, dia após dia, dedicado àquele instrumento, seu grande amor.

Sua esposa, hoje uma senhora bem velhinha e um tanto quanto louca – falo da loucura saudável, aquela que liberta o ser humano de qualquer recalque social-, sempre amou a música. E foi esse, na verdade, o grande laço que os uniu. Quando jovem foi uma mulher bonita, mas nunca bela. Apaixonou-se por aquele rapaz elegante, de nariz fino e longo, que cheirava sempre à lavanda. “Ele foi um homem que se perfumava”, afirma, toda sorridente e orgulhosa. O amor daquele homem pela música a fascinava. Queria ser amada naquela mesma intensidade, e esse era seu maior desejo.

No entanto, aquele jovem rapaz tinha outros planos. Queria conhecer o mundo, construir uma obra grandiosa, deixar alguma herança para o mundo, fosse qual fosse. Mas tinha medo, não se permitia romper barreiras, não se deixava ser tomado por qualquer impulso juvenil. Era dedicado à sua família e à sua música. Nunca dedicou-se a si mesmo.

Durante mais de quarenta anos fez parte da orquestra sinfônica de Paris, era um dos violinistas. E, embora soubesse todas aquelas músicas de cor e salteado, nunca atreveu-se a solar. Queria ter sido solista. Achava que o solo, sim, era uma obra a ser deixada, nem que fosse apenas na memória dos que o assistiam. Mas era um jovem medroso.

Ele se nega a falar de amor, mas confessa que amou a música com toda a intensidade que podia haver dentro de si. Agora ele escuta as sinfonias de sua cabeça. E hoje, recém chegado de Marrocos, conta que, durante toda a viagem, escutou sempre a mesma música. Não poderia explicar. Aquele país realmente...

Aos 91 anos, depois de haver realizado seu maior sonho, sente-se como um rapaz novamente. Anda falante, sorridente e cheio de vida. Ele sabe que, agora, está livre. Enfim atreveu-se, enfim viveu. Sabe que pode ir, já fez o que tinha que fazer por aqui...

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Acabou Chorare

Algumas noites são intermináveis. Frios, medos, suores, barulhos, ruídos desconhecidos, velhos corcundas, espiões, túneis, chuvinha fina, fumaça saindo dos esgotos, odores acres...

Sensações terríveis de desespero, horror e pânico. Impotência. Não consigo fugir, correr, nem gritar. Fico esperando chegar o final do abismo, o momento exato em que me espatifarei no chão, de cara. Ou então a hora que morro com um balaço no peito, sangrando até ficar pálida como uma folha de papel. Ou ainda quando a porra da piscina tem uma superfície envidraça e eu não consigo sair, tento desesperadamente achar uma brecha e nada.

Que merda! Odeio pesadelos.

Que, aliás, como meu pai gosta de lembrar, em inglês é nightmare, ou seja, égua da noite. Ah, se meus pesadelos fossem como uma égua da noite, que me levasse para passear nos campos sob a luz da lua cheia, cabelos ao vento, ao lado de um caubói lindo, os estalidos da lenha queimando na fogueira... Ah, quem me dera.

Qual nada! É mó desespero! Depois que você acorda, apavorada, sobressaltada, ainda leva um tempo até perceber que tudo se tratava de um simples sonho. Se sente idiota, pensa como é possível que sua cabeça produza tantas besteiras. Tenta entender. Talvez seja porque dormi de barriga cheia, de bruços, de cabelo molhado... eu sei lá.

Mas quando amanhece... Aí acabou chorare, ficou tudo lindo, de manhã cedinho...

Então a cabeça volta pro lugar e tudo à aparente normalidade. Aí se pode relaxar e viver a vida tranqüilamente.
Até o sol se pôr. Porque logo depois vem a noite e os velhos corcundas tomam conta cidade, os ratos saem dos buracos, as bruxas se levantam de suas tumbas e os odores fétidos chegam às minhas narinas...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Saudades do Dolfo


Muitas saudades desse aí, que é mais do que um amigo... sem palavras pra explicar. Dolfo, meu querido, muito obrigada por existir. Te amo, te adoro, te quero bem.

Em Madri


Em Madri as pessoas fumam em todos os lugares, dentro e fora. Não interessa se você está jantando ou não. Se te incomoda ou não. Os incomodados que se retirem. E pronto. Aqui se come pão, muito pão. Pão no café da manhã, pão no almoço, pão na janta... Aqui se bebe em casa. Também se bebe na rua, mas aí é só pra dar uma calibrada. A birita, nos bares e restaurantes é muito, muito cara. No supermercado é até mais barato do que no Brasil. Os jovens enchem a cara e saem pra rua. Os coroas saem e vão pra casa encher a cara. Ê povo que bebe! O vinho é muito barato nos mercados, assim como o vermut, o conhaque, o rum... A água que se bebe é da torneira, sempre. Ninguém, digo, quase ninguém, compra água mineral. E ainda não vi nenhum filtro por aqui. A vida noturna começa muito tarde. Aqui se ouve boa música de graça. Quer dizer, de graça, não. Você terá, no mínimo, que agüentar as nuvens de fumaça e o cheiro de cigarro impregnado na roupa. A cidade é completamente enfestada de velhinhos. Eles estão por todos os lados! Pra onde você olhar, lá estará um exemplar da espécie. Tem muito gringo também, naturalmente. Há muitos, muitos chineses. Eles são donos de lojinhas onde você encontra absolutamente tudo. Digo, tudo mesmo. Eu, particularmente, adoro os chinos. Eles vendem cerveja clandestina de madrugada, abrem aos domingos e não fecham na hora da siesta. Não são bobos nem nada. O transporte público funciona que é uma beleza. O metrô é uma maravilha, tirando o fato que os funcionários da limpeza estão em greve há uns quinze dias e as estações estão imundas e nojentas. Mas isso a gente releva. É só tomar cuidado pra não encostar em nada... Adoro andar de metrô! Me sinto uma ratazana percorrendo o subterrâneo da cidade, totalmente underground. Quem preferir pode andar de ônibus, esses funcionam também e você pode ver a luz do dia - se der sorte de o sol resolver aparecer. É que os invernos são bastantes cinzas. Ah, e não há vagas em lugar algum. Sendo assim, não consigo ver grande utilidade em se ter um automóvel. Claro que se você tiver garagem em casa e no trabalho, aí assim. No mais, é mó trampo, mó prejú. Os espanhóis não são tão bonitos como se imagina. Ou como eu imaginava, pelo menos. Acho que eles ainda não foram apresentados ao aparelho ortodôntico. A quantidade de gente dentuça é uma coisa incalculável. Sério. E, no mais, tem um tipo de feição aqui, bastante peculiar, que se vê por todos os lados. Parece que são todos da mesma família. Têm uma caraça assim, meio banal. Meio óbvia, sei lá. Cara de espanhol. Mudando de assunto, aqui ainda não descobriram a picanha também... é uma pena! Aliás, carne vermelha aqui é artigo de luxo. No entanto, se come bastante peixe, marisco, lagostines, polvos... com pão, é claro. Fora isso, Madri é uma cidade maravilhosa, super cosmopolita e moderna. E os espanhóis, por serem latinos, são pessoas bastante acessíveis e comunicativas. Claro que não têm o nosso jeito escandaloso e barulhento, nem a nossa simpatia. Mas eles se beijam e se abraçam sem pudores. E é isso o que importa. Não é mesmo?

domingo, 6 de janeiro de 2008

Azeitonas


Eu adoro azeitonas. Verdes, pretas, com caroço, sem caroço, recheadas... Essas aí são temperadas com folhas de louro. Me lembraram feijoada! Eu juro!
Humm... azeitonas...

A janela do meu mundo