domingo, 13 de julho de 2008
Um homem que não é mais.
Ele um dia foi belo. Foi elegante, altivo, amado, invejado. Dançava e cantava como ninguém. Usava um lenço vermelho no pescoço. O cabelo sempre impecável, com gel e tudo. Olhos bem azuis, lindos.
Mas o tempo apagou o brilho dos olhinhos de mar. Hoje são nublados, têm algo de tristeza.
Ele, que andava sempre rodeado de amigos e mulheres bonitas, hoje dança sozinho num mercado qualquer de Vallecas, sob o olhar perplexo e piedoso de quem por aí passa.
O tempo voa e leva com ele o recalque. Sem pudor algum, ele fala do passado e se mostra mesquinho e vaidoso. Perdeu seus amigos e suas mulheres bonitas. Hoje paga para preencher o vazio de tudo aquilo que já se foi.
Aquela voz de veludo não existe mais. Apagou-se. O olhar de galanteio foi substituído por uma mirada tola, indefesa, ingênua.
Vive do passado, de recordações engavetadas e empilhadas num quarto com cheiro de mofo. Ele já está enterrado. Sua tumba é um apartamento velho, escuro e silencioso, cheio de quinquilharias e antiguidades sem valor.
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