terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Caixinha de surpresas


Ela tinha oito anos. Levava um vestidinho de bolinhas vermelhas com fundo verde. Caminhava graciosa, segurando uma caixinha de madeira na altura do peito. E umas sandalinhas vermelhas, combinando com o vestido.

Passara os últimos três dias preparando o presente. Era uma caixinha de surpresas.

Estava convencida de que qualquer um gostaria daquele detalhe. Ia serena, com um sorrisão que mostrava a janelinha.

Ele era seu vizinho. Pequenino também. Só queria saber de jogar bola com os amigos. E corria tão rápido! Costumava usar um uniforme da escolinha de futebol que freqüentava. Verde e branco. E os cabelos grudados no suor da testa.

Ela tocou a campainha. Uma mulher gorda com uma vassoura na mão abriu a porta. Perguntou por ele. Peraí. Ei, menino! Já vou. Oi. Oi. E estendeu as mãos, oferecendo-lhe a caixinha.

Ele não esperava. Não estava preparado para tanta doçura. E reagiu, de uma maneira que é comum às crianças. Rejeitou. Não aceitou. E fechou a porta.

O sorriso se apagou e deu lugar a umas pequenas lágrimas. Pela primeira vez havia sido apunhalada. Mas o tempo curou. Várias outras punhaladas, sentiu.

E segue por aí, tentando encontrar alguém que goste da caixinha de surpresas.