terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Descoberta


A minha história começa bem parecida a de tantas outras garotas: uma gravidez imprevista. Quando descobri que estava grávida quase tive um troço. Parecia que o meu mundo ia desabar. Eu sei que hoje soa meio exagerado, mas foi como me senti naquele momento, sozinha num hospital, diante de uma médica que me dava a “pior” notícia do mundo. Eu tinha ido fazer uma ecografia para ver se meus ovários estavam bem – sempre sofri muito de cólicas e nunca me convenci de que aquilo era normal. Pois bem, no meio do exame a médica virou o monitor pra mim e disse: Ta vendo isso aqui? É um saco gestacional.
Saco gestacional??? Como assim doutora? Você tem certeza de que não é mioma? Um cisto?

Sim, por mais incrível que pareça, eu perguntei isso a ela que, com um sinal negativo de cabeça, me informava de que eu não estava doente. Saí do hospital chorando como uma criança, soluçando. Eu me dirigi à farmácia mais próxima e, com as lágrimas rolando soltas, pedi um exame de gravidez desses de urina. O farmacêutico deve ter pensado que eu estava no meu quinto filho, tamanha era a choradeira. Fiz o exame de urina - você tem que fazer xixi num papelzinho e esperar cinco minutos até que apareça uma segunda linha vermelhinha no papel. No meu caso, a linha apareceu instantaneamente. Assustada, fiquei esperando pra ver se a linhazinha desaparecia do papel. Doce ilusão. Eu devia estar muito grávida mesmo! Mesmo assim não me convenci. Liguei pro médico e pedi pra ele deixar um pedido de exame de sangue com a recepcionista. Passei lá, peguei o pedido e fui pro laboratório. O resultado saiu à noite. Positivo. É, não tinha mais pra onde correr.
Eu havia descoberto que estava grávida antes mesmo da menstruação atrasar. Inacreditável! O que era para ser um simples exame de rotina havia se transformado numa caótica descoberta.
Bom, o fato é que, litros de lágrimas depois, me acalmei, respirei e aceitei. E o mais impressionante foi que, uma vez mudada a “chave”, comecei automaticamente a curtir o momento. Foi mais ou menos como “ah, ta bom. Vou ser mamãe? Então ta.... Viva! Vou ser mamãe!!!” .
Sem querer querendo, havia realizado meu sonho de ser mãe.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Eureka!


Outro dia, conversando com amigas, me dei conta: Como é bom estar grávida!!! Deve ter soado como uma brincadeira porque elas riram muito. Talvez tenha sido a entonação de “Eureka!” que utilizei. Talvez tenha sido a incredulidade daquelas que há um mês só ouviam ais, uis e arghs.

“É sério! Em primeiro lugar, não tenho mais ressaca! E isso é muito bom! Em segundo lugar, parei de fumar, o que implica em um hálito fresco e agradável. Nada de dedos fedorentos, cabelos enfumaçados, roupas empesteadas. Calculando com meu pai outro dia, cheguei à conclusão que já deixei de fumar aproximadamente dois mil cigarros. Dois mil!!! Inacreditável! Meus pulmões agradecem... e muito! E meu bolso também, porque economizei cerca de quinhentos reais de tabaco até agora. Mas, se somarmos esses quinhentos reais às quantias que eu gastava com cervejas, petiscos e afins, esse número se multiplica exponencialmente. Aff! Não gosto nem de pensar...

Agora me levanto cedo, me alimento melhor e dedico horas a fio ao meu bem-estar físico e emocional. Além das caminhadas periódicas, faço drenagem linfática, nado quando faz sol, durmo quando faz frio, vejo filmes e mais filmes embaixo das cobertas, quentinha, agarrada no gatão... Humm... bom demais! Ah, sem contar com o despertar cheio de mimos, música, café da manhã preparado, misto, suquinho, iogurte...

Vocês estão ficando com invejinha, né?! Eu sei... é bom mesmo. Aposto que vai ter um monte de garotas a fim de engravidar depois disso. E isso que eu estou só no começo!

Por exemplo, quem quer comer sem peso na consciência? Hein?!

Bom, sei que sempre existirá alguém pra me dizer que vai dar muito trabalho, que o parto dói, que dar de mamar dói também, que fralda descartável é muito caro, que.... eu sei, eu sei. Mas é aquela velha história do copo meio cheio, meio vazio...

Estou num momento totalmente “copo meio cheio”.

Depois de muito enjoar, só quero saber de curtir a minha barriga, de sentir o meu bebê crescer e se mexer dentro de mim, de sonhar, desfrutar... Tô tão feliz!”.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sonho.


Foi como ganhar um pedaço de tecido. Num primeiro momento, olhei sem saber o que fazer com ele, sem compreender pra que servia. E agora? – era a pergunta que me martelava a cabeça. Pouco depois, já familiarizada com a estampa, comecei a curtir, a ver beleza nele. Mais tarde, resolvi enfeitá-lo. Preguei botões, costurei rendinhas nas bordas, alinhavei, cortei as pontas que estavam sobrando, retoquei. Com um pouco de intuição e outro pouco de imaginação, fui entendendo do que se tratava. Um dia, feliz, me dei conta de que o que tinha nas mãos era a minha bonequinha. Boneca de pano que sorria pra mim. E como o Pinóquio, da madeira à carne, Giovana havia se transformado na minha princesinha. Minha filha. Reconheci-a. Ela, que sempre havia estado nos meus sonhos distantes, agora era real.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Engoli uma fofolete!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Nós.


Pouco a pouco vou começando a me sentir melhor. Os enjoos são cada vez menos freqüentes, assim como a choradeira, a irritação, o mau humor e a insegurança. Aquela sensação de que “estar grávida não tem a menor graça” passou. A barriguinha começa a aparecer timidamente e a perspectiva de ser mamãe vai me enchendo o peito. Noites completas de sono tranqüilo substituíram madrugadas agitadas de “senta-levanta-senta-deita-corre-pro-banheiro-deita-senta”. As coisinhas do bebê começaram a fazer volume e sua presença se faz notar cada vez mais. Seja nas imagens da ecografia, seja no olhar das pessoas que o aguardam com expectativa, seja no tricotar da futura vovó-coruja, seja no bandolim encantado do Dudu, que nos emociona tanto...

As pessoas comentam que estou ficando com cara de Mãerieta. E eu gosto disso.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Virada


Hoje, na natação, me emocionei ao ver uma garotinha conseguir fazer a virada olímpica. Cada vez que passava por ela, que aflição! Que medo de tomar uma pernada na boca do estômago! Várias tentativas depois... ela foi lá e vlupt. Deu a virada certinha! Meus olhos se encheram de água e o nó apertou a garganta. E pensar que tem alguém dando voltas olímpicas aqui dentro...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

08.03.06


Por que ando dormindo tão mal? Pesadelos.
Hoje tinha um mosquito imaginário
Que não parava de zumbir no meu
Ouvido. Será que é um encosto? Um
Pedido de ajuda? Ou será um sinal para
Parar de fumar?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Jogo de Tarô


Um homem caminha solitário em busca de seu destino. Os caminhos estão abertos. Não há obstáculos. Com a cabeça erguida, avança. É uma viagem sem fim. Não se sabe onde ele vai dar. Confiante, ele vai.

A chave de ouro. Recompensa pelo sacrifício. O êxito. Portas que se abrem. Decisões. Em suas mãos.

A carta. Comunicação, notícias, avisos, alertas. Necessidade de expressão, de diálogo. Coisas ditas, escritas, ouvidas. Segredos guardados.

A torre. Fortaleza solitária. Reserva, introspecção. Poder mental, equilíbrio, sabedoria. Solitude.

Os lírios, as flores. Harmonia, paz, tranqüilidade. Problemas superados. Descanso, trégua.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Boniteza do cerrado.

Os ipês passam o ano inteiro disfarçados.



De repente, explodem em cores.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Fecho os olhos


Fecho os olhos e me imagino no campo. Pequenina e com uma cestinha vermelha na mão. Faz sol. Vejo um cavalo marrom correndo em câmara lenta. Penso que essa referência é muito brega e apago o cavalo dos meus pensamentos. Me imagino então correndo para casa, aquela casinha de madeira lá no pé da montanha. Fica num vale. E tem um rio que passa bem na frente e eu me banho lá. É frio, mas é gostoso nos dias de sol. E gosto de ir com meu maiôzinho amarelo. Tem uns meninos que pegam piabinhas e comem cruas mesmo. Aí me canso dessa história besta e tento imaginar outra coisa. Com essa música da Bjork de fundo fica difícil. Agora mesmo ela está tendo um chilique! Bom, aí fecho os olhos de novo e me lembro de uma imagem brutal que vi num filme: um garoto cego de Madagascar andando de bicicleta. Eu fiquei tão impactada por aquela cena que não posso evitá-la em minha mente. Ele passeia com uma risada sufocada, quase sem ar. Nota-se que é uma sensação forte. Tente andar de bicicleta com os olhos fechados! Me entedio com essa história de brainstorm e busco uma tacinha de vinho do porto, pra ver se me ajuda. Aproveito e acendo um cigarrinho pra acompanhar. Pronto. Vejo uma foto minha com uns seis aninhos no clube, de uniforme, perto da ducha. Quando éramos pequenos e estudávamos à tarde, minha mãe ia com a gente pro clube de manhã. Passávamos a manhã lá, sozinhos, brincando. Umas onze e meia tomávamos banho numa ducha e vestíamos o uniforme. Íamos pra casa já prontinhos. Era só almoçar e ir pra escola. Eu gostava. O parquinho, a piscina rasa, a cancha de areia... Aí me lembro do Jojo, que tinha mesmo uns seis anos na época em que o conheci. Ele é um verdadeiro personagem. Quem o conhece, sabe. Tão pequeno ao lado daquele professor, mas cheio de personalidade. Aproveito a viagem pra longe e me lembro do vendedor de sapatos da Tunísia com sua simpatia única. Lembro-me também do Nagib, o taxista mais gente boa que conheci. “Chicas, la medina por la noche, no. Cuchillo, cuchillo.” E na mesma linha tem também o beco da facada, identificado pelo velho Caza perto da estação de trem de Lisboa. É pertinho, mas melhor irmos de táxi, não? Cara, eu tenho muita história com taxista. Teve o que me botou pra fora no meio da rua, cheia de malas e com a sandália arrebentada - num dia de verão em que o asfalto pegava fogo. Que feladaputa! Putz, derramei o vinho do porto em cima das havaianas. Humpf.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Sabedorias de Mark Twain


"Viajar é fatal para o preconceito, a intolerância e as ideias limitadas; só por isso, muitas pessoas precisam muito viajar. Não se pode ter uma visão ampla, abrangente e generosa dos homens e das coisas vegetando num cantinho do mundo a vida inteira."

"O gentil leitor jamais imaginará o grande asno que pode vir a ser, até o dia em que viaja ao estrangeiro."

Sobre o tagarela de Plutarco


Já dizia o filósofo: sábio é o homem que bebe vinho e se mantém calado.

“É uma surdez voluntária, de homens que, suponho, censuram à natureza o fato de terem apenas uma língua, embora tenham duas orelhas.”

“Os navios apanhados pelos ventos são retirados com a ajuda de cabos e âncoras, que reduzem sua velocidade; mas, para a palavra que, por assim dizer, escapou do porto, não há nem ancoradouro nem ancoragem.”

“Do mesmo modo que o vinho, que foi inventado para o prazer e para a boa convivência, é transformado por aqueles que são forçados a bebê-lo muito e sem mistura num veneno intragável, assim também a linguagem, o mais agradável e o mais humano dos símbolos, torna-se, por aqueles que a empregam mal e negligentemente, inumana e insociável: julgando-se encantadores, eles são enfadonhos; admiráveis, eles são ridículos; amáveis, eles são desagradáveis.”

“O que está no coração do homem sóbrio está na língua do homem embriagado.E tanto o silêncio é profundo, religioso, sóbrio, quanto a embriaguez é faladeira: sendo sem inteligência e dotada de pouco espírito, por isso mesmo faz muito barulho. ”

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O Anjo Negro


Eram amigos inseparáveis desde a infância. Com o tempo, as brincadeiras foram mudando. Abandonaram o pique-pega, as bicicletas e as pandorgas. Cigarrinhos de palha e goles de cachaça às escondidas eram mais divertidos. O pai dela emprestava o carro nos fins de semana, mas com uma condição: o amigo tinha que ir junto.

Certa vez, numa dessas deliciosas aventuras de fim de semana, se embriagaram, fumaram, dançaram, aprontaram. Já era madrugada e eles estavam voltando pra casa. Ela dirigia e eles se perderam na entrada da cidadezinha. Estavam no meio do nada, no meio do mato. Completamente embriagados, não viram o mato-burro logo em frente e caíram no buraco. Conseguiram empurrar o carro pra fora, mas o pneu estava furado. Entreolharam-se. Nenhum dos dois sabia por onde começar. Começaram a rir.

De repente, um homem alto, forte e negro surgiu, não se sabe de onde. Aproximou-se dos dois e sem dizer nenhuma palavra, começou a trocar o pneu. Deve ter levado uns quinze minutos, no máximo. Estiveram, os três, o tempo todo em silêncio. O homem terminou de trocar o pneu e seguiu, sem olhar pra trás. Desapareceu em poucos segundos. Nunca mais o viram.

Quem me contou essa história foram eles mesmos, hoje meus amigos também. E me disseram mais: que aquele homem era, sem sombra de dúvida, um anjo. Um anjo disfarçado de homem, que como veio se foi, sem deixar rastros.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Milonga triste


Estávamos sentados numa mesinha bem no fundo daquele galpão. Os músicos, do outro lado do salão, às gargalhadas, tocavam uma velha milonga. O ambiente estava escuro e enfumaçado, como de costume. No meio do salão, casais apaixonados e amantes do tango dançavam coladinhos, num vai-e-vem incessante. Eu podia ouvir os roces dos vestidos contra as calças, podia sentir aquela mistura de perfumes femininos no ar, podia provar o teu desamor.

Aquelas horas que passamos ali, um ao lado do outro, em silêncio, foram das mais duras. Eu não queria entender, não queria aceitar a tua verdade. No fundo, no fundo, eu sabia exatamente o que me aguardava, mas eu simplesmente preferia ignorar e alimentar qualquer doce esperança tola.

Você estava nervosa, olhava para o chão, girava os anéis nos dedos, rasgava guardanapos, fumava um cigarro atrás do outro. Não era capaz de me olhar nos olhos. Usava sua franja como artifício para esconder os olhos e assim ganhava mais tempo, tempo para decidir como me arrasar da maneira menos dolorosa.

Faço o esforço de me colocar no seu lugar e reconheço que não é fácil dizer “eu nunca te amei”. Mas isso, se você quer saber a verdade, não me serve de consolo. Não me alivia o peito nem me seca as lágrimas.

E me pergunto como você pôde ser tão fria. Enquanto meu mundo ruía, você permanecia inabalável, séria e com os olhos secos postos em mim. Eu estava diante da maior paixão que jamais vivi e não conseguia dizer nada em minha própria defesa. Foste demasiadamente clara para que eu pudesse pronunciar qualquer palavra de súplica.

Hoje, sentado na mesma mesinha do fundo, choro. Escuto outras velhas e tristes milongas e sofro pelo teu não-amor. Ser amado é difícil, eu sei. O meu amor te sufocou e eu entendo tua partida. Mas a ausência de amor é o pior que se pode provar.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Solitário Jorge


Jorge é uma tartaruga. O último da sua espécie, originária das Ilhas Galápagos. Estima-se que o jovem rapaz tenha uns 110 anos, aproximadamente. Levando-se em consideração que as tartarugas chegam a viver mais de duzentos anos, ele está na flor da idade.

Aí botaram o Jorge em contato com tartarugas fêmeas de espécies (reinos, filos, famílias, sei lá) parecidas, para tentar reproduzir. Após meses de expectativa, os pesquisadores identificaram que uma dessas tartarugas tinha posto nove ovos. Surgia então, a esperança.

No entanto, o tempo passou e nunca saíram tartaruguinhas daqueles ovos. Tempos depois, outra fêmea botaria ovos. De novo, nada.

Descobriram que Jorge é infértil.

O último exemplar da espécie, a última esperança, não pode reproduzir. Ironias do destino.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A volta - por cima.

Juja, tá difícil escrever sobre a chegada. Mas vou tentar.

Depois de passar pelo controle da polícia, ainda no aeroporto de Madrid, senti um vazio. Chorei muito, sem saber o porquê. Era uma mistura de alívio e tristeza. Mas logo me acalmei e dormi o vôo inteiro. Aí cheguei!

As duas primeiras semanas foram só farra. Rever os amigos, bater papo com os coroas, comer a comidinha da mamãe, ir à praia (sim, fui ao Rio, que, por sinal, continua lindo!), tomar sol, ceveja, dançar...

Ainda tô chegando, me acostumando a morar em família outra vez, a dirigir, a fugir das blitzes, sei lá. Por outro lado, chegar é maravilhoso. Parece que velhas e tolas ilusões se desintegram, escorrem entre os dedos. Como uma doce e suave pitada de realidade e pé no chão.

Me lembro de toda a expectativa que vivi antes de ir pra Espanha e como a vida lá foi real. Sabe? Acho que na volta rolou algo parecido. Expectativas piscianas - como se eu tivesse esquecido como é o Brasil.

Sair de uma realidade e entrar em outra, dói. Mas é tão bom!!! O melhor talvez seja a mudança de perspectivas. Caí da cama, acordei. Mas gostei de ver o que estava diante dos meus olhos. Agora deixo as lembranças adormecidas seguirem adormecidas. Prefiro escrever um novo capítulo, mais fresco, mais belo e mais meu.

Se é que você me entende...

Beijos no coração.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O hippie inocente

Ele era um desses hippies filhinhos de papai, com conta corrente, cartão de crédito, carro... riponga de mentira, sabe? Ele fazia um tipão de que era muito desprendido das coisas materiais e tal, mas ai de quem metesse a mão no seu potinho de erva.

Estrangeiro inocente, chegou ao Marrocos sem dar-se conta de que estava na África. Queria conhecer as profundezas daquela terra e daquela gente, tão amigáveis aos seus olhos de europeu.

Ao observá-lo, eu experimentava uma mistura de raiva e de pena. Raiva por identificar prepotência em todos os seus atos. E pena por não conseguir entender como ele podia ser tão tolo. Afinal, aos 30 anos, ele não era mais um garotinho.

Incapaz de dar-se conta que era, aos olhos da gente da terra, um saco de dinheiro em potencial, preferia acreditar que estava agradando, fazendo amigos. E talvez pensasse que sua barba ruiva lhe fazia parecer um nativo. Quanta inocência!

Não foram precisos muitos dias para que sua particular tolice lhe propiciasse grandes emoções.

terça-feira, 12 de maio de 2009

É hoje!


Vai chegando ao fim a minha temporada no Solar da Paz. Depois de quinze dias instalada nesse retiro espiritual, respiro fundo, olho pela janela e deixo Madrid entrar. Vou morrer de saudades. Eu sei.

Mas hoje é dia de festa e nao tenho tempo para pensar na partida. Nem quero. Tenho que comprar o absinto, o rum e a vodca que prometi. Além do gelo, do jamón, da tortilla e do tabaco.

Aproveito o dia ensolarado e ponho aquele vestidinho que nao uso desde o verao passado. Acordei serena depois de mais uma noite povoada de sonhos e decidi que essa despedida vai ser encarada como um “até logo”. Nunca gostei de “adeus”.

É com um sorriso à la Carmem Miranda e com essa alegria brasileira que deixo os meus amigos e volto pra minha terra.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Indo...

Tenho o peito doído, o coração batendo forte, uma mistura de vários sentimentos, a cabeça a mil. Só de imaginar a sensação de estar em Brasília e rever tudo, o ar me escapa dos pulmões. O peito dói um pouquinho. Mas já já passa.

A hora do encontro é também despedida e eu começo a sentir saudade de Madrid. Caminho por suas ruazinhas com o coração apertado, imaginando que pode ser a última vez em muito tempo. E só de pensar nos amigos que ficam...

Como num passe de mágica, tudo desaparece. Puf!

Não sei como será sem esses bares enfumaçados, sem o ritual de comer sardinhas no Rastro, sem as tertúlias com a Mari Paz, sem os porres com a Luz, sem ir à Filmoteca com o Álvaro, sem filosofar com o Hique... não sei.

Só sei que vai ser bom demais!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Smoke


Eu conheci um cara que disse que ia pesar the smoke of his cigarrillo. Todo mundo duvidou, disseram que he estava crazy, que seria como tentar pesar the air. Pero ele foi more sagaz de lo que imaginávamos.

Brought uma balança e pesou o cigarro. Logo, he smoked tranqüilamente, echando las cenizas en la balança. Y, por fin, juntou a colilla y verificou o peso. The diference entre os pesos era cuanto pesava o humo.

Amazing, no? A mí me parece. Não sei como não havia pensado nisso antes.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O vestido e a flor


Eu não procurava ninguém. Mas te vi...
Só que esqueci o seu rosto. Esqueci como era. Não lembro o que dizia, nem que roupa usava. Você desapareceu. Acho que nunca mais te vi.

Eu fui embora. Vou, de vez em quando, a algum lugar.
Gosto das ruazinhas estreitas e do barulho da água descendo pelo encantamento das casas. Gosto das varandas com flores e do sol queimando a minha pele.

Ia com um vestido branco, florido. O cabelo solto. Sandálias frescas.
Fumava um cigarro com a mão esquerda. Dirigia escutando música boa, o som bem alto. Arrepiava e experimentava uma sensação de liberdade e falta de ar.

Sentada naquela praça, escutando os pássaros e as crianças, tinha a sensação da iminência do encontro. A partir desse dia, tal sensação voltaria a encharcá-me o peito freqüentemente.

Quem é você?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Confissões



Devo confessar que ainda penso em ti. Que ainda povoas os meus sonhos. Que imagino como será o nosso reencontro. Que gostaria de poder me atirar aos teus braços, sem vacilar.

Que quero ver a tua cara, a tua barba, o teu sorriso, os teus olhos. De perto. Quero te beijar, te abraçar, te cheirar. Chorar de alegria agarrada no teu pescoço. Sorrir, fazer amor, dormir de conchinha, me aninhar no teu corpo.

Tuas reticências me fazem perder o sono. Se ao menos eu soubesse...

A menina e o sapo.


Ao seu lado, ela sempre se sentia intimidada. Não sabia bem o porquê. Logo ela, que sempre foi tão segura! Ele era forte e bonito. Falava com entusiasmo de suas andanças pelo mundo e a contagiava. Tinha uma visão tão prática e positiva das coisas! Quando o escutava, se sentia como uma criança resmungona que não sabe olhar pra vida como se deve.

E lhe contava histórias de outras mulheres... Às quais ela escutava calada, com um sorriso amarelo, tentando disfarçar o incômodo. Ele a via como amiga. Mas ela queria ser mais que isso. Queria ser a moça linda e encantadora que ele havia conhecido do outro lado do mundo. E ele contava detalhes que lhe doíam os ouvidos, mas ela não era capaz de reagir. Ficava ali, escutando e sofrendo, e querendo que ele mudasse logo de assunto.

Se sentia como uma menininha que admira um ator de cinema. Estranhas sensações ele lhe causava. Desconsertava, incomodava. Mas ela gostava mesmo assim.

sábado, 4 de abril de 2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

A história do acidente

Era uma noite de sábado e eu tinha combinado de encontrar uma amiga que não via há tempos, numa festa no Lago Norte. Cheguei sozinha. Ela já estava lá, com o namorado, me esperando. Haviam centenas de carros espalhados por todas os conjuntos vizinhos ao da festa. Pois bem, estacionei longe e enfrentei uma fila de uns vinte minutos até conseguir entrar. Fora o fato de eu estar sozinha diante de um casal de apaixonados, estava tudo bem. A festa transcorreu tranqüila.

Em um determinado momento, comecei a conversar com um gatinho e tal... conversa vai, conversa vem... já sabem...

Umas cinco e meia da manhã, mais ou menos, saímos da festa e fomos para a rua onde estava o meu carro. Descemos até a beira do lago e ficamos vendo o dia nascer.

Passados alguns minutos, vejo um rapaz, muito bêbado, tropeçando ladeira abaixo. Ele desceu cambaleando, se escorando nos portões. Me perguntei se devíamos fazer algo ou não. O que fazer? Chamar um táxi, falar com ele, oferecer ajuda, sei lá...

O cara passou por nós outra vez. “Está perdido e procura o carro. Tomara que não encontre”. Ele subiu a rua de novo, virou à direita e seguiu. Uns cinco minutos depois, passava em direção contrária.

Eu não saberia precisar quanto tempo ficamos ali, vendo o sol nascer no final da rua, olhando pro lago. Acho que meia hora, mais ou menos... Quando o gatinho foi me deixar no carro ainda fazia bastante frio, era a primeira hora da manhã - essa hora em que as padarias abrem. Nos despedimos, ele entrou no seu carro e saímos juntos da quadra.

Eu ia à frente. Ao virar à esquerda, já para pegar a pista principal, vi que havia uma ambulância parada do outro lado da pista. Vi também um corpo estendido na calçada, coberto por um lençol branco. Fiquei gelada.

Voltei pra casa com uma sensação super estranha, um peso no peito. Dormi. Os domingos sempre foram difíceis. Esse foi só mais um deles.

Na segunda-feira de manhã acordei cedo pra ir trabalhar. Como de costume, fui até a caixinha de correios e peguei o “Correio”. Comecei a folhear o jornal despretensiosamente, lendo as manchetes. De repente bati o olho numa foto.

Era aquele rapaz bêbado. Algemado, cabisbaixo. Saía da delegacia escoltado. Havia gente tentando agredi-lo. Eu não podia acreditar. Comecei a tremer.

Era o dia do aniversário de 80 anos daquele senhor. Ele havia saído para comprar o pão enquanto a sua esposa preparava a casa. Era dia de churrasco de comemoração. Toda a família foi convidada. Acontece que, quando voltava pra casa, caminhando tranqüilamente pela calçada, foi atingido por um carro, que seguiu sem prestar socorro. Ás oito da manhã, o carro foi encontrado na garagem de um prédio no Sudoeste. Vidros quebrados, pneus furados. Ele cruzou a cidade depois de atropelar uma pessoa. E foi dormir.

Na terça, a primeira coisa que fiz foi buscar o jornal. Havia uma nota. Os exames de álcool no sangue davam negativo.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O país do carnaval!

Ontem, pra aula de português, levei um texto que falava sobre alguns “tipos” brasileiros. O caboclo, o pantaneiro, o seringueiro, o gaúcho, o caiçara... Levei também um mapa e os alunos gostaram bastante. Aí, cheguei em casa e fui pesquisar sobre os estereótipos dos brasileiros, tipo carioca, mineiro, baiano, paulista... E me deparei com artigo de umas psicólogas do Rio. “Viajando com jovens universitários pelas diversas brasileirices: representações sociais e estereótipos”, pra quem quiser arriscar.

Dei uma lida e curti porque, na verdade, me dei conta do tanto que esses estereótipos estão entranhados dentro de nós. Me dei conta também de que, freqüentemente, recorro a eles ao falar do brasileiro. O baiano é preguiçoso, o cearense é cabeça-chata, o mineiro é come-quieto, o paulista é branquelo, o carioca é malandro e o gaúcho é macho! hehehe

Mas a verdade é que os estereótipos existem em todas os lugares e não é nada mais do que uma maneira de se identificar com uns e se diferenciar de outros. Gosto de observar os estereótipos madrileños, por exemplo. Os junkies da praça Dos de Mayo, os playboys do bairro de Salamanca, os rastas de Lavapiés, os gays de Chueca, os estilosos de Malasaña, os gitanos, as velhinhas de Goya, os fashions e seus bulldogues, os sudacas, as putas da Montera, os franceses e seus pic-nics no Retiro, os chinos por todos os lados...

Sei que não soa politicamente correto... mas é assim. Acho que os estereótipos, quando não usados de maneira preconceituosa ou discriminatória, são uma maneira de identificar as diferentes “gentes”.

Me lembro de estar caminhando com o Juliano em Amsterdam e ver dois caras, longe, longe, caminhando em nossa direção. Eu bati o olho e disse: são brasileiros com certeza. E digo mais, cariocas! O Ju rio e concordou. Não deu outra, quando passaram por nós comprovamos a tese. Eram os típicos surfistas do Rio, de bermuda, camiseta e havaiana, com um andar balançado, malandro... hahaha

Eu sei, eu sei... mas é verdade!

E tem a história do baiano que queria vender um refri pra Natália em vez do suco de laranja natural que ela havia pedido. “É que tem que ir lá na cozinha, espremer...” Só faltou ele dizer: é que me dá uma lezeira... hehehe Brincadeira!

Agora falando sério, já que eu sou de Brasília e lá só tem filho de político – e os políticos são todos corruptos – posso ser politicamente incorreta, né?

quinta-feira, 12 de março de 2009

O fim da crise


Ainda não havia chegado a primavera, mas, inexplicavelmente, o clima era de verão. Quando, naquela manhã de sábado, de repente, o sol saiu, as pessoas pareciam agradecer aos céus. Saíram aos montes às ruas, a povoar as praças e os parques. No domingo, de novo o mesmo clima: sol forte, céu azul e nenhuma nuvenzinha pra contar a história. Enquanto curtiam o “verão” já se ouviam rumores pessimistas de que aquilo não duraria muito, logo viria o frio de novo. E, teoricamente, até maio não há escapatória. O frio voltaria, assim como os casacos de couro, os cachecóis e as luvas.

No entanto, os dias foram passando lentamente, um trás outro, com o sol lá no alto, brilhando. As praças seguiam cheias de gente. Depois de meses de brancura extrema – exceto pelos turistas italianos que desfilam sempre com seus bronzeados alaranjados quase nada artificiais – já se podia ver rostos rosadinhos e ombros de fora.

Os dias foram ficando mais largos rapidamente. Parecia que cada dia amanhecia um pouco mais tarde e o sol se recusava a dormir tão cedo. Permanecia lá no alto, forte e imperioso. De repente, como num passe de mágica, as flores brotaram e encheram a cidade-cinza de cores e cheiros. Os rostos se iluminaram e os corpos começaram a ser mostrados. Canelas, pés, braços, pescoços.

A luminosidade dourada abriu as janelas e as cortinas. Gentes nas varandas e música. Cervejas e picolés aos litros e quilos. Vozes, risadas e os gritinhos agudos dos pequenos. Patins, bolas, bicis, peões. Vestidinhos, bermudinhas, sandalinhas. Vida, muita vida.

E, de repente, todo mundo parou de falar na crise.

quinta-feira, 5 de março de 2009

It’s hard to be a woman



Ontem fui com o Henrique - recém chegado a Madrid, encantado com tudo – à Sala Barco. É um lugar bem bacana onde, às quartas-feiras, sempre rola uma jam session, ou seja, os músicos vão se revezando e o público agradece. Tanto pela variedade quanto pela qualidade. É jazz.

Eu curto muito porque, além de ser logo aqui na esquina, nunca está muito cheio e é um ambiente bem civilizado. Digo “civilizado”, mas não me entendam mal. É que se trata de um lugar aonde as pessoas vão para escutar a música, tomar a sua cervejinha e dar aquele respiro entre-semana, aquele gás para seguir com a rotina.

Mas a história que eu ia contar era outra.

Lá sempre canta uma garota que é muito boa. Além de cantar muito, é simpática, tem atitude, presença... sério, eu nunca entendi como pode sair tanta voz de um corpo tão franzino. Eu sempre “me pongo la piel de gallina”, me arrepio. É que se fecho os olhos posso tranqüilamente imaginar que estou diante de uma negra norte-americana numa New Orleans dos anos cinqüenta.

Enfim...

Ontem a coisa foi diferente. Eu e o Hique estávamos esperando que ela subisse pra cantar. Eu já tinha feito um baita marketing e, eis que, de repente, não mais que de repente, logo atrás dela, sobe um garoto. Era um cara novinho, duns vinte e poucos anos. Beleza. Até aí tudo bem. Começam a tocar. Ele começa a cantar. Massa. Cantava direitinho. Mas aí chega a vez dela e ele, com uma ansiedade de novato, atropela geral. Passa por cima. Esculhamba.

Ela sorriu meio sem graça e se calou. Ele seguiu, feito um menino que ganha um presente novo, cantando. Passa o refrão. Vem o solo dos músicos e chega a vez dela de novo. Dessa vez, ele inclusive apontava para ela, como quem diz “te toca a ti”, é a tua vez. Ela, sempre sorrindo, começou a cantar:

It’s hard to be a woman… It’s hard to be a woman…

Pois foi justamente nesse momento que o infeliz interrompeu de novo: Yeah, it’s hard to be a woman... oh, yeah.... hard, hard, hard… woman, woman, woman…

Eu, nesse momento, olhava atônita pro Hique e, confesso, se estivesse no Brasil, teria gritado: Fora! Fora! Mas me calei. Fiquei parada, com a boca aberta, observando a cara de “si te pillo te mato” da garota. Ela tentou, mas não conseguiu disfarçar o incômodo. O cara era um menino. Isso pra não dizer “moleque”.

Bueno, o fim da história eu acho que vocês podem imaginar... Ela não conseguiu cantar. Ele passou por cima sempre que pôde. A canção acabou e ela desceu do palco. Mas em sua testa estava escrito: Eu não disse? It’s hard to be a woman!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Eu estava de mudança...


Eu tava de mudança. Enchi minhas duas malas de tralha pesada. Nesse momento me dei conta da quantidade de coisas que uma pessoa pode acumular em alguns poucos meses. Bom, apelei pras sacolas e bolsas. Ainda assim me faltava espaço. Olhei pra cama. Afff! Ainda faltava muito... fiz uma trouxa enorme com a colcha mesmo. Beleza! No total eram uns sete volumes.

Eu olhava pra tudo aquilo e ria. Como eu ia descer tudo? Resolvi tentar de táxi. Comecei a descer – quatro andares, sem elevador – o mais pesado. Deixava uma mala no térreo e subia correndo pra buscar outra, com medo de que me roubassem a primeira. Será mania de brasileiro?

Tive que fazer duas viagens de táxi. Enfim, na segunda viagem, já descabelada e com fome, o taxista parou numa esquina pra eu descarregar as coisas. Eis que surge um casal vindo em nossa direção.

Vocês não podem parar aqui. Estão interrompendo a passagem – disse o homem.

Sim, senhor, mas eu estou de mudança... será que você não pode desviar dois metros pra direita e passar? – ponderei, eu.

Não. Tira essas malas pra eu passar.

Que?

Quero passar. Você está bloqueando a rua.

Tá de sacanagem? Dá a volta, cara. Recua dois metros e passa!

Nesse momento, o taxista, apressado, tirou as malas do meio do caminho do mala-mór. Passaram, ele e a mulher, que resmungava e assentia com a cabeça. Iam cheios da razão, plantando discórdias por aí.

Eles passaram e eu não me agüentei.

Cara, e o bom senso? Eu estou me mudando... estou tirando minhas coisas e o táxi já vai... são três minutos.

E o que me importa se você está de mudança?

E o que me importa se você é um grandíssimo filho da puta?

Ele seguiu, sem olhar pra trás. Ciente de sua condição de amargado.

Eu fiquei tremendo, nervosa. Não tenho o costume de gritar ofensas na rua. Mas é que acho que tem gente que merece um sacode de vez em quando. E essa máxima que diz que “você dá o que recebe” é a mais pura verdade.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Madrid


Madrid, numa tarde quase primaveril, deixando transparecer todo seu erotismo.

Ou seriam os olhos da fotógrafa?

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Carnaval


Ontem foi noite de carnaval em Madri.

Passaram batmans, robins, noivas, bruxas, romanos, vacas, vikings... Houve de tudo na avenida. Teve muito beijo e algumas brigas. Encontros, reencontros e desencontros. Cerveja, vinho e uísque. Viado, macho e bi. Sóbrias e ébrias. Sós e acompanhados. Havia de tudo um pouco.

Tudo passa...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Dulce de Banana



Ela está sozinha em seu quarto, diante do computador, com dor nas costas e com a cabeça cheia.

Escuta algo que soa ritmado e alegre ao fundo. Não sabe bem o que fazer. Caetano a leva embora por uns minutos.

Há um frasco com tampinha azul de Dolce & Gabanna. Dulce & Banana. Dulce de Banana.

E volta ao que estava fazendo, ou seja, tentando esvaziar a cabeça. Sente o peito aliviado e apertado ao mesmo tempo.

Escreve uma lista de coisas que tem que fazer. Escreve com força, marcando o papel. É hora de se concentrar, pensa. Concentrar em relaxar.

Complicado isso!

E, assim, fica horas. No seu microcosmo. Tentando se recuperar do fim-de-semana mais terapêutico (terapia de choque) dos últimos dois anos.

E sentindo o couro endurecer.

Tinha sido exposta a muita informação, ainda não lhe havia dado tempo digerir tudo aquilo.

Dulce... e que seja mais doce, pensava.

Caixinha de surpresas


Ela tinha oito anos. Levava um vestidinho de bolinhas vermelhas com fundo verde. Caminhava graciosa, segurando uma caixinha de madeira na altura do peito. E umas sandalinhas vermelhas, combinando com o vestido.

Passara os últimos três dias preparando o presente. Era uma caixinha de surpresas.

Estava convencida de que qualquer um gostaria daquele detalhe. Ia serena, com um sorrisão que mostrava a janelinha.

Ele era seu vizinho. Pequenino também. Só queria saber de jogar bola com os amigos. E corria tão rápido! Costumava usar um uniforme da escolinha de futebol que freqüentava. Verde e branco. E os cabelos grudados no suor da testa.

Ela tocou a campainha. Uma mulher gorda com uma vassoura na mão abriu a porta. Perguntou por ele. Peraí. Ei, menino! Já vou. Oi. Oi. E estendeu as mãos, oferecendo-lhe a caixinha.

Ele não esperava. Não estava preparado para tanta doçura. E reagiu, de uma maneira que é comum às crianças. Rejeitou. Não aceitou. E fechou a porta.

O sorriso se apagou e deu lugar a umas pequenas lágrimas. Pela primeira vez havia sido apunhalada. Mas o tempo curou. Várias outras punhaladas, sentiu.

E segue por aí, tentando encontrar alguém que goste da caixinha de surpresas.

Que bode...


Bode...
Eu não quero esse bode
Esse bode é igual
Àquele Carnaval
Que eu passei sem você
Vê se pode...
Sustentar esse acorde
Acordar pra saber
Pra me reconhecer
No minuto final

Você foi um sucesso
Na minha vida
O meu lado do avesso
O começo da minha vertigem
A origem do meu velho nó

Você é um fracasso
Do meu lado esquerdo do peito
Uma corda de nylon de aço
Que arrebenta quando eu faço um dó


De Sérgio Sampaio

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

É hoje!!!


Hoje é dia de Iemanjá!

Odô Iá, minha Mãe!

Axé!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Romantismo passageiro


De repente, numa tarde de sexta, já cumpridos todos os compromissos, sentada diante do computador, escutando Tim Maia, fui tomada por um romantismo pouco habitual.

Já resolvidas todas as pendências cotidianas, inclusive tendo feito um escândalo numa revista para que me pagassem o que me deviam – me pagaram! Enfim! - , eis que me encontro outra vez só, no meu pequeno, porém acolhedor, lar.

Descubro uma já esquecida bandejinha de bacalhau congelado no mini-congelador do meu frigobar. Levando-se em consideração que tinha batatas, cebolas, ovos e azeitonas, me preparo um delicioso Bacalhau a Gomes de Sá. Como sou uma pessoa bastante precavida, tinha também um litro de cerveja geladinha esperando pra ser bebida. Ótimo!

Ponho umas pérolas do Tim pra tocar a todo volume enquanto cozinho e como. Feito isso, saciado o apetite, percebo que tenho uma espécie de frio na barriga. Não é fome. Paro, reflito, e me dou conta de que, na verdade, fui afetada pelo gorducho sacana.

Que descanse em paz!

Minha sorte é que o disco acabou. E a vontade de compartilhar meus breves momentos de romantismo também.

Paradoxos da vida



Para que as coisas seguissem como eram antes, muita coisa tinha que mudar.

O dia em que deus me sacaneou


Estava numa pequena cidade cujo nome não vem ao caso. Comemorávamos um êxito que também não vem ao caso. O fato é que já era quase cinco da manhã e eu estava completamente embriagada. Estava suficientemente alterada para andar em zig-zags por aquelas calçadinhas estreitas e desertas.

Saí da “festa” deixando meus companheiros em igual ou pior estado. Éramos uns oito ou nove. Mas eu era a única que tinha que seguir viagem.

Caminhava decida, embora sem muita pontaria, rumo ao castelo em que estava hospedada. Era um palácio do século XVI (ou XVIII, tanto faz) transformado em albergue. Cruzei o imponente portão e segui pelos jardins. Ainda não estava amanhecendo, mas meus olhos já haviam se acostumado à escuridão. Subi a escadaria e, esbarrando em tudo o que havia no meu caminho, consegui chegar a minha habitação. Havia outras pessoas no mesmo quarto. Obviamente, dormiam. Não acendi as luzes. Minha sorte é que tenho um bom sentido de localização e direção.

Encontrei, sem dificuldades, a minha cama e, ao pé dela, minha mala. Com o tato, no escuro, identifiquei a roupa que queria vestir. Não me perguntem qual era, não me lembro. Me dirigi ao banheiro. Acendi a luz. Ufa! Que alívio.

Tomei um banho rápido e quente. Me vesti e voltei ao quatro escuro. Enfiei a roupa da festa na mala sem nenhum cuidado, sem dobrar nem nada. Estava muito bêbada para fazer as coisas com capricho. Eu era pura torpeza. Tive que sentar em cima da mala para poder fechá-la. Fechei.

Chego na “recepção” e, muito sem graça, desperto o simpático homem responsável pelo palácio. Pedi, não sei como, pois não falávamos o mesmo idioma, que me chamasse um táxi. Necessitava estar na estação de trem dentro de quinze minutos. Enquanto esfregava os olhos e lambia os beiços, ele me olhava surpreso.

- Você quer um táxi? A essa hora? Pois... não tem.

- Como assim? Não tem?

- Não tem... Espera, vou tentar.

Pegou o telefone e, descrente, discou... nada. Ninguém atendia. Ele, sem dar-me nenhum tipo de explicação, virou as costas e saiu. Voltou em seguida com umas chaves na mão e me disse:

- Vem comigo.

Eu fui. Caminhamos até o estacionamento. Ele, aquele santo homem, ia me levar no seu carro até a estação, às cinco e tanto da manhã de uma quarta-feira qualquer. Era um anjo da guarda.

Eu lhe agradeci muito, mais com gestos do que com palavras. Eu nem sabia o que fazer, mas tinha vontade de abraçá-lo. Quando chegamos na estação, tentei que aceitasse algo de dinheiro e ele recusou. Acho até que se ofendeu um pouco. Mas, com sua simpatia habitual, me desejou uma boa viagem e se foi.

Já me sentia um pouco mais lúcida, embora não conseguisse realizar movimentos sutis e delicados. Entrei na estação e me dirigi à fila para comprar a passagem. A fila não andava e eu, agoniada, olhava pro relógio e via o tempo passar. Não poderia precisar quanto tempo estive na fila, talvez uns dez minutos. Nesse momento, passou perto de mim um homem com uniforme da estação.

- Senhor, desculpa, é nessa fila que compro as passagens pra Maracangalha?
-
- Maracangalha? Hoje é quarta-feira, não tem trem pra Maracangalha hoje...
-
- Como assim? Eu tenho que estar lá dentro de três horas, senão perco o vôo de volta pra casa!
-
- O que você pode fazer é tentar pegar o ônibus, que sai logo ali, onde Judas perdeu as botas.

Eu não estava em condições de discutir – nem tinha léxico para tanto. Saio da estação e me deparo com um táxi com todas as portas abertas, inclusive o porta-malas. Já começava a amanhecer e o taxista estava limpando, com uma dessas flanelinhas amarelas, os vidros do carro. Me aproximei e, muito educadamente, lhe pedi que me levasse lá onde Judas perdeu as botas. Ele me disse que não, que estava limpando o carro. Simples assim. Falou comigo num tom quase de deboche, como se eu fosse a pessoa mais sem-noção da face da terra. Parecia que eu havia pedido a ele que me levasse à Bahamas de táxi.

É óbvio que insisti, fiz cara de choro, apelei à Santa Virgem, implorei, fiz charminho... E ele me levou. De cara feia, mas me levou. Quando chegamos, na hora de pagar, bem faceira, saquei uma nota de 50. Ele não podia acreditar. Bufafa, vermelho. Atirou minha mala na calçada – para não dizer que arremesou - e ofendeu todos os meus familiares, sem exceção. Eu ouvi, caladinha, sem dizer nada. O que eu podia fazer? Eu não tinha troco...

Sem ter outra saída, ele me deu o troco e se foi cantando pneus. As pessoas na parada de ônibus me olhavam pasmos. Uns com pena, outros com olhar de repressão.

Felizmente o ônibus chegou poucos minutos depois. Entrei, paguei ao motorista e perguntei quanto tardaríamos para chegar à Maracangalha. Ele me disse que umas duas horas e meia. Fiz os cálculos de cabeça e vi que, com um pouco de sorte, poderia não perder o avião. Me acomodei, ajeitei o despertador do celular e dormi o sono dos justos.

Acordei sobressaltada com o alarme. Confirmei com o motorista que estávamos chegando. Ok, tudo ia bem. Desci na estação e, com minha mala em punho, fui informar-me sobre o transporte até o aeroporto. Caramba, que saga! Aquele sofrimento não acabava nunca. E, na verdade, eu já abandonava o estado de embriaguez e começa a sentir os sinais da ressaca. Encarei mais meia hora de ônibus até o aeroporto. Fui cochilando, os olhos iam fechando devagarinho, a cabeça ia caindo pra um lado, até que... opa! Acordava com o queixo quase entre os seios. Dava esse típico coice de pescoço para trás, disfarçando, e tentava manter-me desperta. Que inferno! E que gosto de guarda-chuva na boca!

Cheguei no aeroporto! Ia dar tempo. Eu nem podia acreditar. Foi quando, para minha alegria suprema, vislumbrei a fila de embarque. Nesse momento, me despi de qualquer vergonha-na-cara ou consideração-ao-próximo e fui diretamente ao guichê, ignorando a fila. Expliquei à atendente que meu vôo já ia sair e ela, serenamente, me pediu que aguardasse. Aguardei uns minutos e ela me chamou.

Eu já estava com a passagem na mão e um sorriso na boca quando ela me avisou que eu não tinha pagado a taxa necessária para despachar a bagagem. Ou seja, tinha que encarar mais uma fila. E mais uma taxa.

Pois bem, enfrentei mais uma fila e mais uma taxa. Paguei. Me sobravam no bolso uns cinco euros... Entrei no avião atrasada. Só faltava eu. Olhares de ódio em minha direção. Estava cansada demais pra importar-me com olhares alheios. Dormi.

Aliás, dormi antes da decolagem e acordei depois da aterrissagem. Cheguei. Recolhi minha mala e enfrentei quarenta e cinco minutos de metrô até a estação mais perto da minha casa.

Às três da tarde cheguei, enfim...

Entrei em casa. Bebi meio litro de água e dormi até o dia seguinte.

Aquela batalha, eu havia ganhado. Agora, que deus tava de sacanagem comigo, isso tava.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O ninho era quentinho, mas eu tinha que voar...


Confesso que às vezes olho ao meu redor e sinto falta do meu ninho. Mas eu tinha que voar...

Aquele ninho era cômodo e quentinho, mas estava ficando pequeno pra mim. Eu, que sempre fui uma andorinha muito saidinha, queria conhecer outras paragens.

Desde que saí, desde que voei pra longe, me dei conta de muitas coisas. De que um bom ninho não se constrói depressa, por exemplo. E que não se constrói só. Sozinho, talvez. Mas só, nunca. Necessitamos sempre de um empurrãozinho, seja qual for... E é um processo longo. Antes precisamos treinar nossas habilidades arquitetônicas.

Eu me lembro do meu primeiro vôo mais ousado... encontrei um pássaro lindo e raro, d’uma espécie em extinção. Construímos nosso ninho. Era bonito e aconchegante, mas, depois de certo tempo, começou a chover, chover... e o ninho não resistiu ao temporal. Faltava algo, mas nunca descobri o quê.

Nesse momento, assustada, voltei pro meu ninho quentinho. Lá, recebi amor e muitas minhocas. Muito combustível acumulei. Até que chegou o dia do grande vôo. E, dessa vez, voei sozinha.

Cheguei bastante longe. Numa terra onde as árvores e as minhocas são diferentes. Onde o sol brilha mais fraco e o vento sopra em outra direção. Mas não foi difícil adaptar-me a esses novos ares, acho que as melodias que trouxe gravadas na memória me ajudaram.

Agora, pouco a pouco e sem pressa, começo a construir outro ninho. Felizmente sei que, sempre que precisar, aquele ninho quentinho seguirá lá, me esperando de braços abertos para mais um verão.

Mas sei também que minhas asas já estão bem grandes e que posso voar longe e alto. E que posso juntar galhinhos de várias espécies e tamanhos e tons de verdes e marrons. E que posso ir de galho em galho, construindo pequenos ninhos... até o dia em que encontre o galho perfeito pra mim. Então, aí sim, construirei um ninho bem bacana, com raminhos variados, num lugar bem alto, pertinho do céu, do sol, das estrelas e da lua.

E, de noite, farei saraus e tertúlias... e, de dia, silvarei bem alto e contarei, com uma suave melodia, a minha história. Tão simples e tão minha... para quem queira ouvir.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O nó



Era uma terça-feira de inverno em Madrid. Ela caminhava apressada por Chueca, olhava para os lados em busca de um lugar para comer. Tinha muita fome e pouco tempo. Em breve deveria estar do outro lado da cidade, dentro de um escritório escuro e impessoal.

Entrou num pequeno restaurante chamado “El Rincón de Chueca”. Os garçons e os clientes faziam jus à fama do bairro. Eram todos, ou quase todos, homossexuais. Ela se sentou sozinha numa mesa e sorriu. Sempre se sentira bem entre os homens. E, na verdade, sempre desfrutara de uma simpatia pelos gays, e era recíproco.

Pediu uma ensalada mixta e salmão a la plancha. Quando já estava por terminar a salada, percebeu que o homem que estava na mesa em frente a sua, sozinho, choramingava. Observou-o atentamente durante os quinze minutos restantes de que dispunha para almoçar. O homem se lamentava, murmurava algo para si mesmo. Notou uma tristeza profunda.

Em nenhum momento ele lhe pareceu estar zangado ou arrependido de algo. Estava triste. As lágrimas corriam soltas por seu rosto. Algumas desciam até o queixo e logo desapareciam no cachecol. Outras eram tragadas junto com os espaguetis.

Ela não entendia como o sofrimento oculto de um anônimo podia causar-lhe tamanho impacto. A cada garfada angustiada daquele homem ela sentia o peito apertar mais. Não conseguiu terminar de comer.

Pediu ao garçom que lhe preparasse o salmão para levar. Pagou a conta, fumou um cigarro e, ao levantar-se para ir embora, foi dominada por um sentimento muito forte. Tremia dos pés à cabeça e, sem tentar reprimir o impulso, levantou-se e foi até a mesa daquele homem.

Inclinou-se para frente e lhe perguntou, com a voz tremida e fraca:

- Perdoe-me, você está muito triste, não?

- Sí...

E viu duas gotas gordas escorrerem naquele rosto desconhecido.

- Posso te dar um abraço?

- Sí...

Abraçou-o como a um velho amigo. Com força. E sussurrou-lhe ao ouvido que não se preocupasse, mesmo sem saber o porquê da tristeza. Ele, totalmente entregue ao abraço, beijou-lhe o pescoço - com esses beijinhos murchos de quem sofre.

Eles se entreolharam com os olhos cheios de água. Ela não conseguiu dizer nada mais. Despediu-se com a cabeça e se foi. Ele seguiu-a com o olhar.

Ao sair do restaurante, ela sentia o peito repleto de luz, sensação boa, mas que lhe causava dificuldade para respirar. Ele, sentado naquela mesinha, só e perplexo, sentia-se aliviado, como se houvessem desfeito o nó que lhe apertava a garganta.

sábado, 17 de janeiro de 2009

And the oscar goes to...

Fui à Tunísia. Desci num aeroporto que fica entre as cidades de Cartago e Hammamet. Um ônibus nos esperava para levar-nos ao hotel em Hammamet. Descobri que essa pequena cidade possui mais de quinhentos hotéis. Pasmem. Mais de quinhentos!

A partir de Hammamet, pode-se fazer várias viagens e rotas turísticas. E eu entrei na onda. Viajei mais de dois mil quilômetros nos primeiros cinco dias. Fui a Túnez, a Cartago, a Keirouan (a terceira cidade mais muçulmana do mundo, depois de Meca e Jerusalém), a Matmata, ao lago salgado El Djerid, ao deserto do Saara, a Nabeul...

Conheci muitas cidades, muitas medinas (mercados labirínticos cercados por muralhas), muitos cheiros e sabores, muitas paisagens maravilhosas, muitas oliveiras e muito eucalipto.

Ao percorrer o país em direção ao sul, onde está o deserto, a paisagem vai mudando rapidamente, de verde à desértica. No entanto, as oliveiras nos acompanham por horas a fio, sem cessar. Acontece que a Tunísia é o quarto país produtor de azeite de oliva do mundo, depois de Grécia, Itália e Espanha, não necessariamente nessa ordem. E o segundo maior exportador do mundo.

A paisagem “aceitunera” é muito linda e lembra muito a Andalucía, o sul da Espanha. Aliás, as oliveiras são árvores muito especiais. Além de viverem até dois mil anos, são baixinhas e, geralmente, o tronco se divide em dois. Então, sempre me dão a impressão de serem um casal. Uma ramificação do tronco seria a mulher e a outra, o homem.

Bom, deixemos meu lado romântico de lado.

De Hammamet a El Djerid (o suposto lago salgado que, de outubro a março, mais ou menos, é chamado Deserto de Sal porque não chove) a paisagem muda drasticamente. O passeio começa com muito verde e muita pedra e acaba com dunas e areia fina, fina, que parece talco.

O interessante é que fomos parando em várias cidades e “pueblos” para conhecer e descansar. Pois bem, foi numa “cidade” (as aspas estão aí porque não é uma cidade no sentido ocidental da palavra) chamada Matmata que vivi uma das situações mais interessantes da viagem.

Matmata é um lugar típico por suas casas “trogloditas”. São casas construídas, ou melhor, escavadas, nas pedras. Aí vivem os povos berberes. Nosso ônibus parou em frente a uma dessas casas para que nós (turistas espanhóis, alemães, ingleses e eu), conhecêssemos.

Realmente, tais construções são interessantes. No inverno são quentinhas e aconchegantes. No verão, fresquinhas. Mas isso não foi o mais bacana. O bacana é que havia três mulheres e umas quinze crianças atuando para nós, para que tirássemos fotos e satisfizéssemos nossa ânsia de exotismo.

Foi engraçado. Chegamos, entramos na casa, e lá vem uma delas, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Senta-se diante de um moedor de sêmola de trigo e começa a “moer”. Impressionante! Aquela garota merecia o oscar de melhor atriz!!! Era boa mesmo. Moia a sêmola como ninguém!

O fato é que era uma casa para turistas, decorada, com “atrizes” e “pequenos atores”. Mas, tudo bem. Todos saímos satisfeitos. Nós, com nossas fotos da casa troglodita. E eles, com as nossas moedinhas pesadinhas.

Não quero que isso pareça uma crítica. O turismo, muitas vezes, consiste nisso, em ver o que nunca se vê. Chegamos, vemos, tiramos fotos e deu. E o fato de terem uma casa troglodita preparada para os turistas me parece lógico e aceitável. Ainda que engraçado.

Então é isso. Tá tudo esquematizado. É assim que funciona.

Vai dizer que no Brasil é diferente? Fiquei sabendo que existem até visitas guiadas a favelas no Rio agora...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Uma velha história


Caminhavam juntos, lado a lado. Fazia frio às margens daquele pequeno lago negro. Ele, apesar de saber de sua condição de mulher casada e de ser amigo de seu marido, se declarava apaixonadamente.

Ela, embora o pedisse que parasse, que respeitasse aquele santo matrimônio e os filhos frutos desse amor, gostava. Deliciava-se com as promessas daquele homem, tão forte e tão à mercê...

Ele, ao mesmo tempo em que lhe enchia de elogios e lisonjas, lhe pedia coragem. Coragem para reconhecer que deveriam estar juntos e não separados. Coragem para assumir verdadeiramente seus sentimentos e reconhecer que seu marido não passava de um acomodado que não reconhecia-lhe a beleza.

Ela, vaidosa, não era capaz de escutar-lhe a súplica. Concentrava-se em negar cegamente as juras de amor e admirar tamanha corpulência aos seus pés.

Ele queria entender o porquê de ela seguir encontrando-se com ele se, na verdade, não o amava. O que queria ela então? Fazê-lo sofrer, não permitir que ele pudesse esquecê-la? A vaidade faz parte, sim. Mas isso era crueldade. Nunca lhe havia dado uma resposta decisiva. Ele precisava de um sim ou de um não. Não exigia dela nada mais.

Mas ela, em sua ignorante presunção de mulher amada, não era capaz de compreender. Não queria parar de encontrar-se com ele. Era tão lindo, grande e frágil. Ajoelhava-se e implorava-lhe o amor. Num desejo tão grande... uma sensação que ela jamais havia sentido.

Precisavam um do outro. Ele, por ter descoberto, depois de tantos anos, o amor; o encantamento surrealista da paixão. Ela, por experimentar, por primeira vez, a idolatria de um homem e o prazer de ver-lhe ali, dia após dia, numa incansável luta de conquista.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Taí, gostei.

Outro dia, meu pai me mostrou esse texto. Está publicado no blog de Janer Cristaldo, um gaúcho que escreve muito bem e que, pelo visto, desfruta da vida como ninguém. Gostei muito, tanto que resolvi publicá-lo aqui.


DESDE O FUNDO DO POÇO À UMA VIDA PLENA DE GRAÇA.

De Janer Cristaldo


Senhor pastor:

Houve época em que cri em um deus onipotente e salvador e muitas vezes a ele orei por minha salvação, pela salvação de meus próximos e mesmo da humanidade. Foram meus dias de adolescência, pastor. Justo naqueles dias, fui assaltado pelo clamor, não dos povos – como fala o Livro – mas pelo clamor da carne, clamor tirano, imperioso e impossível de ser domado. Por melhores propósitos que fizesse, acabava dominado pelos ditos prazeres da carne. Dizem que a carne é fraca, pastor. Nada disso, a carne é forte. Fraco é o espírito, que sempre acaba cedendo à carne.

Entrava em pânico, via à minha frente as chamas eternas do Hades, onde tudo é choro e ranger de dentes. Me sentia condenado ao convívio com demônios. Arrependia-me, fazia atos de contrição, confessava meus pecados a sacerdotes e recebia a absolvição. Por um dia ou dois, conseguia viver sem pavores. Mas não mais que um dia ou dois. No terceiro, eu já estava pecando de novo. As noites de tempestade eram noites de pavor. Talvez fosse megalomania. Mas cada raio que caía, eu sentia que era dirigido a mim.

Eu era pobre, pastor. Filho de camponeses, nunca tive facilidades em minha infância. Muito menos na adolescência. Fiz minhas universidades mal tendo dinheiro para o restaurante universitário. Vivi em repúblicas abomináveis, pequenos apartamentos, sem grana suficiente para tomar um vinho decente. A bebida mais ao alcance de minha boca era a mais barata, a cachaça. Ainda adolescente, tomei grandes porres de cachaça. Naqueles dias de pouca grana, bebia muito e bebia mal. Em minha juventude, pastor, eu estava no fundo do poço. O senhor Jesuis era um encosto em minha vida, despacho de catimbó feito a Exu, praga rogada por urubu para infernar meus dias.

Foi quando então, pastor, durante três dias e três noites, li atentamente a Bíblia. Foram dias em que quase não comi. À noite, pegava um cavalo em pêlo, sem freio nem buçal, e saía a galopar nas madrugadas, olhando o céu estrelado e esperando ouvir daquele universo magnífico alguma resposta. Não ouvi nada, pastor. Foram três dias e três noites decisivas em minha vida. A partir da leitura do Livro, tornei-me ateu. Aquele deus proposto pelas Escrituras, que se pretendia criador daquele firmamento esplêndido e cravejado de estrelas, que só vemos na pampa ou no deserto, sempre longe das cidades, não me convencia. Aquele deus matava e exterminava, mandava matar e exterminar. Não me servia.

Disse então a mim mesmo: sai de mim, Coisa Ruim! Me larga, ó Espírito Castrador, sai de minha vida, ó Supremo Estraga-prazeres! Desapareçam de minha vida vocês três, o Pai, o Filho e o Paráclito. E a Mãe também, antes que me esqueça. E todos os santos do céu e todos os padres de todas as igrejas. Xô, Espírito Imundo, xô, Assassino de Povos. Ouste, Pai das Doenças e Exterminador de Nações. Rua de minha alma, ó velho Deus castrado!

Então, pastor, tudo mudou em minha vida. Saí do fundo do poço, rumo à luz do bocal. Mulheres começaram a cair-me dos céus, justo daqueles céus mudos aos quais eu pedia perdão por meus pecados. Como perdera a noção de pecado, nunca mais pequei. Tornei-me um santo homem e procurei imitar os bíblicos patriarcas. Curti plenamente os prazeres que tanto apraziam ao rei Davi, ao rei Salomão, à Sulamita. Verdade que nunca consegui sustentar setecentas mulheres e trezentas concubinas. Mas fiz o que estava a meu modesto alcance.

Por mais de quarenta anos, as mulheres me caíram nos braços como o maná caiu do alto por quarenta anos para saciar a fome do Povo Eleito. Comecei minha vida afetiva com duas, às quais muito amei. Por circunstâncias dos dias, perdi uma. Vivi quatro décadas de muito carinho e cumplicidades com a segunda. Fui feliz em meu casamento. Divórcios, separações, o espírito do ciúmes, amargura, traições, nunca rondaram minha existência.

Quando minha amada partiu, não acusei deus algum, afinal não acreditava em nenhum. Estas duas primeiras amadas logo se multiplicaram por dois, cinco, dez, vinte, cinqüenta. Não saberia dizer quantas, nunca contei. Mas digamos que a metade da “listina” de Leporello. Corri atrás delas com a hybris de um fauno grego, para compensar os dias de vacas magras e sem leite de minha juventude. Após deixar de crer no tal de deus, minha vida foi uma profusão de prazeres. Corri nu atrás de valquírias nuas pelos bosques de Estocolmo, em plena luz da meia-noite. Isto, pastor, teu deus não confere aos mortais, exceto se forem majestades apaniguadas pelo Senhor. Isto é ventura só concedida pelos deuses lúbricos do Valhala. Tack tack, Odin!

Uma vez descrente, apesar de pobre consegui educar-me. Fiz duas faculdades, três pós-graduações no Exterior, viajei por todos os países da Europa, por mais alguns do Leste europeu, pela África, Estados Unidos, Canadá e América Latina. Nasci nos peraus do Upamaruty, em um rancho de pau-a-pique e fiz doutorado em Paris. Consegui escapar de meu pequeno mundinho e sai a navegar pela vastidão do anecúmeno. Au bord’elle, la Seine, conheci uma peoniana adorável, a quem dediquei minha tese. Havia também Úrsula, uma polonesa, que me sussurrava: “mon ours tropical”. Música para meus ouvidos.

Não cheguei a amar a filha de Faraó, muito menos moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, como o sábio rei Salomão. Mas tive namoradas lindas em várias cidades do mundo. Desde suecas a francesas. Desde macedônias até mesmo a turcomenas e usbeques, passando por polonesas e russas. Adorei a turcomena. Era de Achkhabad, palavra que soava deliciosamente à minha fome de exotismo. Uma vez ateu, fascinou-me a idéia de ouvir mulheres gemendo em línguas que desconheço. E as ouvi. Paris sempre foi pródiga em estrangeiras de todos azimutes e não recusei o que a cidade generosamente me oferecia. Tive do bom e do melhor, como dizem suas ovelhas, senhor pastor. Mas só depois que deixei de crer.

Ateu, fui abençoado com dinheiro e vida confortável. De camponês tosco, tive acesso a línguas, à filosofia, à literatura, à música erudita, a óperas, em suma, ao dito mundo da cultura. De Teixeirinha passei a Mozart, de Luiz Gonzaga a Bizet. Abandonei a cachaça e passei a cultivar bons vinhos e bons uísques. Do mondongo fui promovido ao foie gras, do arroz com feijão às andouilletes. Curti a boa gastronomia da Espanha, França, Itália, Alemanha, Portugal. Percorri as cidades mais esplendorosas do Ocidente. Vivi em três prestigiosas capitais da Europa e em quatro grandes capitais de meu país.

Perambulei por paisagens magníficas, que me fizeram chorar. A beleza extrema sempre me provoca lágrimas. Andei pelo deserto, por oueds, montanhas, dunas, fjords, rias e ventisqueros. Chorei nos Andes, chorei nos Alpes, chorei no Saara, chorei nas costas da Noruega, chorei no Estreito de Magalhães. Chorei também em Santorini. De Madri, saí chorando. Eu estava em uma bodega, tudo era cores, dança, música, canções, madriles lindas, muito vinho, odores de assado bom, os sons rascantes de uma língua que adoro.

Quando me dei conta que, dali a duas horas, estaria voltando ao Brasil, chorei como um terneiro desmamado. Fui chorando até o aeroporto. Não porque estivesse voltando ao Brasil. Mas porque estava abandonando a festa. Dentro de pouco eu estaria voando, espremido num assento apertado, rumo a um país sin flamenco ni cante hondo, sin bailaoras ni cantaores, sin cochinillos ni lechales. Na bodega, continuariam todos cantando e dançando, comendo e bebendo. Muito chorei em minha vida, pastor. Raras vezes de tristeza. O mais das vezes, foi por deslumbramento, perplexidade ante a beleza. Felicidade também nos faz chorar. Choro também com certas árias de Nabucco, Carmen, Don Giovanni, Norma.

Depois que abandonei o tal de Deus, senhor pastor, passei a viajar quase todos os anos à Europa. (Quando nele acreditava, só conseguia ir de Dom Pedrito a Ponche Verde). Fiz pelo menos cinco travessias divinas do Atlântico – com perdão pelo trocadilho – de navio. Sabe, pastor? Aqueles navios cheios de Emmas Bovarys sedentas para conhecer o mundo e experimentar emoções outras que não as medíocres emoções proporcionadas pelo Charles. Vivi grandes momentos, “ao quente arfar das vibrações marinhas”, como canta o poeta. Fiz cruzeiros também divinos pelo Mediterrâneo, pelo Báltico, pelo mar do Norte e pelo mar Negro, pelo Egeu, pelo Adriático e pelos Canales Fueguinos.

Durante pelo menos uns trinta anos, sempre celebrei a bona-chira nos mais antigos e acolhedores restaurantes da Europa, com minha Baixinha adorada. Agora que ela partiu, ora a celebro com minha filha, ora com alguma namorada. E com meus amigos. Bastou-me abandonar Deus, pastor, e minha vida se tornou repleta de bênçãos, que me caíam dos céus em catadupas.

Fui salvo por minha descrença, pastor. Quando cria em Deus, era um adolescente fodido e sem nenhum vintém. Não tinha nem como convidar uma amiga para um bom jantar. Bastou-me deixar de crer e a vida se tornou linda. Cheguei aos sessenta jovem e cultivando minhas antigas amadas. Não tenho carro, nem nacional nem importado, como ostentam vossos crentes, é verdade. Mas isto é opção minha. Com carro não se vai longe. Ora, eu gosto de ir longe.

Sem ser rico, vivo bem. Não tenho contas em vermelho, nem nome sujo na praça, nem problemas na justiça. Jamais fiz empréstimos. Não sei o que seja um cheque sem fundo. Muito menos problemas familiares. Hoje, minhas únicas dívidas são luz, água e condomínio. Vivo em bairro bom, prédio ótimo, apartamento confortável. Ano passado, regalei uma antiga namorada com uma viagem a Paris, Barcelona e Madri. Com uma noite em Bruxelas, só para curtir um café que adoro.

À minha filha – doravante designada Primeira Namorada – dei de presente os fjords noruegueses, o sol da meia-noite, Estocolmo e o arquipélago de Estocolmo e de novo Paris. Na próxima primavera européia, estou combinando um giro pela Itália com uma amiga da Finlândia. No outono, penso partir com a Primeira Namorada rumo a Madri e às ilhas Canárias. Madri porque não concebo ir a Espanha sem visitar Madri. Ilhas Canárias, porque quero passear entre os vulcões de Lanzarote e comer carnes assadas no calor das lavas.

Por vários anos vivi soterrado no fundo do poço. O senhor Jesuis sempre foi um atraso em minha vida. Tudo só se tornou lindo, divino e maravilhoso quando o abandonei. Sei que o senhor pastor, por questões de fé, neste ano que começa, não poderá gozar dos prazeres que gozei e gozarei ainda.

Seja como for, bom 2009, senhor pastor.

Olé!



Comecei a dançar flamenco!!!

Ainda estou bem no início, aprendendo passos básicos, palmas, "taconeos", compassos...

Mas estou amando! A postura, o sentimento, o ritmo. É um esforço tremendo, até porque faz anos que não pratico uma atividade que me exija tanta coordenação motora. Tenho que estar o tempo todo super concentrada, senão me perco.

Além de liberar a tensão do dia-a-dia, de mexer o esqueleto, de suar, de dançar... me faz bem para a cabeça, pois esqueço as preocupações.

Olé!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

o outro


Ouvi em algum lugar que, quando amas muito, emanas cheiro de flores... então, quando as pessoas passam perto de ti, sentem... e se encantam... e se aproximam...

Que papo mais brabo!

Posso acreditar, não posso?

Em que?

Pô, achei bonito...

Bonito, o que?

Você bem que podia ser um pouco menos corta-barato, não?

Eu?

É, tu. Me deixa em paz.

Eu, heim.




Compreender o próximo... eterno desafio.

Relação Espaço-Tempo


Um copo, com vinho branco até a metade, repousa tranqüilo.

Ao lado, um saleiro, um perfume, um isqueiro, uns cigarros, uns cremes para as mãos e uma pilha de papéis..

Um carlton aceso, no cinzeiro, ao alcance da mão esquerda.

Um flamenco sofrido toca ao fundo. No fundo.

Duas laranjas doces esperam. Uma janela quase fechada. Uns amigos - ou não - vão por aí.

Oito metros quadrados. Esse é o espaço. Nada mais. Parece pouco. E é.

Mas...

tem mandioca, queijo, leite, arroz, azeite, atum, macarrão, roupa, sapato, carregador de pilha, incenso, música, cheiro e sonho.

O espaço, assim como a geladeira e o tempo, se distende...

domingo, 11 de janeiro de 2009

Sempre gostei de biografias


Desde pequena, sempre gostei de ler biografias. Depois, mais grandinha, me apaixonei pelos documentários. Em seguida, decidi que queria estudar jornalismo porque gostava das histórias reais. Hoje, amo cada vez mais a literatura, a ficção.

Sem deixar em segundo plano a realidade, descobri o prazer na mentira. Mentira boa, sem culpa. Essa mentira a que me refiro pode ser entendida como, por exemplo, um quadro de Picasso, uma música do Chico, um poema de Augusto dos Anjos, um personagem de Shakespeare...

As “histórias de vida” seguem me encantando, as verdadeiras. Mas sempre quando contadas com uma pitada de arte. Qualquer uma das sete, tanto faz.

No jornalismo diário, por exemplo, uma boa história não basta. É necessário que o texto tenha “molho”, tenha encanto, seduza o leitor. E isso quem me ensinou foi um amigo-professor gaúcho de enorme talento.

No cinema, um bom roteiro não é suficiente. Na pintura, tintas, pincéis e tela não são suficientes. Na poesia, uma boa idéia ou boas rimas não são suficientes. E por aí vai...

Na vida real, cotidiana, as coisas vão acontecendo num ritmo mais distendido, mais lento. E isso dificulta a capacidade de identificar as boas histórias. Vivemos, todos, coisas dignas de serem contadas. O difícil é, durante esse processo, conseguir vê-las e contá-las com sal, com pimenta.

Bom, enquanto seguimos cegamente emergidos no processo e sem lucidez para ver poesia no que acontece ao nosso redor, nada melhor do que recorrer às boas mentiras.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Botando pra fora...



E sem acreditar que nevou em Madrid...

E sem acreditar que meus coroas já estão longe...

E sem acreditar que a rotina está de volta...

Mas muito, muito feliz.

A cidade toda branquinha, meu peito cheio de amor e a vontade de que 2009 seja ainda mais fantástico que 2008.

Feliz 2009 pra todos!!!