quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Paris é igual à Pelotas

Prédios antigos, ruas de paralelepípedo, clima úmido, friozinho, chafarizes, pracinhas... o cheiro, o jeito, as cores, as árvores, a noite... Paris é igual à Pelotas.

Duas cidades lindas, tão parecidas mas tão diferentes...

Durante toda a minha estada na França, Pelotas sempre me vinha à cabeça. A atmosfera e o ar que respirei lá, só havia experimentado antes em terras gaúchas.

Fiquei hospedada, primeiro, num pequeno e charmoso apartamento nos arredores da Cidade Luz, perto de Versalles. Logo em seguida, fomos para Vilerville, uma pequena cidade com jeito de interior. Silêncio, velhos, mar, vento, frio, paz. E muito dinheiro. É uma cidadezinha bastante rica, caracterizada por seus cassinos enormes e seu porto, recheado de centenas de barcos de todos os tamanhos e modelos.

Tudo bem, não dá pra comparar com o Laranjal se nos fixamos no aspecto econômico da coisa. Mas se o enfoque for a sensação que esse tipo de lugar proporciona, aí sim, posso dizer que me senti na beira da Lagoa dos Patos.

Em Vilervile, a maré sobe e baixa muito velozmente. É tão rápido que, se você se distrai, perde o fenômeno. As águas, que antes chegavam bem pertinho da casa, em poucos minutos estão a uns trezentos metros de distância.

E isso me fez lembrar aquela antiga história da criança desaparecida no Laranjal. Naquele dia que, milagrosamente, as águas recuaram e devolveram aquele pequeno corpo inerte e sem vida. Foi como se Iemanjá tivesse escutado as preces de todos e resolvido dar fim à angústia que maltratava aquela gente.
Eles, enfim, poderiam enterrar o ente querido e chorar. Sofrer em paz.

O mar nos traz surpresas.

Da mesma forma que nos presenteia com peixes, algas, cores, vida, alegria e frescor; nos leva, vez por outra, relógios, anéis, colares, pulseiras, amigos.

Saudade de jogar flores pro mar...


2 comentários:

Sem Papel e Tinta disse...

igual... só falta o fedor do mercado público, o esgoto a céu aberto e as pessoas mal-educadas...

Anônimo disse...

Comentário enviado ao Blog "Amigos de Pelotas", porém censurado e não publicado no mesmo:

É IMPRESSIONANTE!!!...
Embora essa situação se repita com uma frequência previsível, nunca deixo de surpreender-me com ela.
Creio mesmo que se trata de um fenômeno digno de um estudo sociológico ou antropológico. Porque não se refere apenas a uma situação apresentada pela autora da crônica ou por esta crônica em particular, mas de uma realidade mais ampla e recorrente, da qual esta crônica é apenas uma pertinente representação e síntese. Na verdade, nem se trata de uma crítica a esse texto especificamente, aliás um texto afetivo, jovial e poético, segundo me pareceu.
Trata-se de uma tentativa de compreensão de uma realidade mais geral, ou seja, sobre a necessidade premente e, até mesmo, da ausência de pudor, com que o pelotense frequentemente insiste em comparar nossa cidade com Paris, Londres ou outro grande centro cultural mundial...
Esse fenômeno, ao meu ver, como um pelotense que há cerca de 30 anos reside há mais de 3000 quilômetros da cidade, só encontra paralelo no conhecido bairrismo e megalomania encontrados nos argentinos, mais particularmente no porteño... Uma parcialidade, uma ausência do senso de conjunto, de um senso de referência, de um "desconfiômetro" mesmo, que impede que se perceba que as semelhanças entre Pelotas e esses grandes centros, são tão circunstanciais, tão pontuais e insignificantes mesmo, em relação a todas as outras diferenças, ao conjunto geral, que se torna absolutamente desproporcional e impertinente tentar explicitar alguma relação de semelhança. Uma parcialidade, fruto do amor pela cidade, suponho, que, na tentativa de unir o belo e sublime que se encontra numa Paris ou Londres, com o sentimento interno e profunto de amor que o pelotense tem pela cidade natal, faz com que extrapole, que perca as referências e proporções, para chegar a uma comparação direta, absurda e irreal. Uma parcialidade que não permite que se perceba que as circunstanciais e pontuais possíveis semelhanças entre Pelotas e esses grandes centros culturais, são semelhanças que, por sua insignificância e pontualidade em relação ao todo, podem ser também encontradas em milhares e milhares de outras cidades brasileiras, e que, portanto, não tem o mínimo sentido fazer tal comparação direta. Porém, muitos pelotenses não conseguem escapar dessa necessidade visceral de fazer essas grandiloquentes comparações...
O que causaria essa ausência ou escassez do senso de proporção, do senso de realidade, tão frequentemente encontrada em nossa cidade?... Acho que a resposta a essa pergunta mereceria um estudo sociológico ou antropológico mais aprofundado.

De um pelotense que gosta de manter os vínculos com a cidade,

Carlos Germano
Recife - Pernambuco