sábado, 17 de janeiro de 2009

And the oscar goes to...

Fui à Tunísia. Desci num aeroporto que fica entre as cidades de Cartago e Hammamet. Um ônibus nos esperava para levar-nos ao hotel em Hammamet. Descobri que essa pequena cidade possui mais de quinhentos hotéis. Pasmem. Mais de quinhentos!

A partir de Hammamet, pode-se fazer várias viagens e rotas turísticas. E eu entrei na onda. Viajei mais de dois mil quilômetros nos primeiros cinco dias. Fui a Túnez, a Cartago, a Keirouan (a terceira cidade mais muçulmana do mundo, depois de Meca e Jerusalém), a Matmata, ao lago salgado El Djerid, ao deserto do Saara, a Nabeul...

Conheci muitas cidades, muitas medinas (mercados labirínticos cercados por muralhas), muitos cheiros e sabores, muitas paisagens maravilhosas, muitas oliveiras e muito eucalipto.

Ao percorrer o país em direção ao sul, onde está o deserto, a paisagem vai mudando rapidamente, de verde à desértica. No entanto, as oliveiras nos acompanham por horas a fio, sem cessar. Acontece que a Tunísia é o quarto país produtor de azeite de oliva do mundo, depois de Grécia, Itália e Espanha, não necessariamente nessa ordem. E o segundo maior exportador do mundo.

A paisagem “aceitunera” é muito linda e lembra muito a Andalucía, o sul da Espanha. Aliás, as oliveiras são árvores muito especiais. Além de viverem até dois mil anos, são baixinhas e, geralmente, o tronco se divide em dois. Então, sempre me dão a impressão de serem um casal. Uma ramificação do tronco seria a mulher e a outra, o homem.

Bom, deixemos meu lado romântico de lado.

De Hammamet a El Djerid (o suposto lago salgado que, de outubro a março, mais ou menos, é chamado Deserto de Sal porque não chove) a paisagem muda drasticamente. O passeio começa com muito verde e muita pedra e acaba com dunas e areia fina, fina, que parece talco.

O interessante é que fomos parando em várias cidades e “pueblos” para conhecer e descansar. Pois bem, foi numa “cidade” (as aspas estão aí porque não é uma cidade no sentido ocidental da palavra) chamada Matmata que vivi uma das situações mais interessantes da viagem.

Matmata é um lugar típico por suas casas “trogloditas”. São casas construídas, ou melhor, escavadas, nas pedras. Aí vivem os povos berberes. Nosso ônibus parou em frente a uma dessas casas para que nós (turistas espanhóis, alemães, ingleses e eu), conhecêssemos.

Realmente, tais construções são interessantes. No inverno são quentinhas e aconchegantes. No verão, fresquinhas. Mas isso não foi o mais bacana. O bacana é que havia três mulheres e umas quinze crianças atuando para nós, para que tirássemos fotos e satisfizéssemos nossa ânsia de exotismo.

Foi engraçado. Chegamos, entramos na casa, e lá vem uma delas, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Senta-se diante de um moedor de sêmola de trigo e começa a “moer”. Impressionante! Aquela garota merecia o oscar de melhor atriz!!! Era boa mesmo. Moia a sêmola como ninguém!

O fato é que era uma casa para turistas, decorada, com “atrizes” e “pequenos atores”. Mas, tudo bem. Todos saímos satisfeitos. Nós, com nossas fotos da casa troglodita. E eles, com as nossas moedinhas pesadinhas.

Não quero que isso pareça uma crítica. O turismo, muitas vezes, consiste nisso, em ver o que nunca se vê. Chegamos, vemos, tiramos fotos e deu. E o fato de terem uma casa troglodita preparada para os turistas me parece lógico e aceitável. Ainda que engraçado.

Então é isso. Tá tudo esquematizado. É assim que funciona.

Vai dizer que no Brasil é diferente? Fiquei sabendo que existem até visitas guiadas a favelas no Rio agora...

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