quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Sul Realismo



Era uma mão de quatro dedos. Nada mais. Era uma mão sem polegar. Sem braço, sem dono. Ela era um monstro. Vinha de madrugada, subia pelo pé da cama e torturava as crianças.

Fazia um calor tão grande, tão úmido. As pessoas fritavam seus ovos na calçada. E todos comiam na rua. Aí mesmo. E tomavam um caldo verde escuro, amargo. E suavam.

O fusca falava.

A cidade cheirava a lenha. Olha a banana, a melancia, o melão e a uva.

Havia um círculo negro no chão do chuveiro. E dava choques. E goiabada predileta.

Morava lá um anjo que falava seu próprio idioma.

E caçavam abelhas em potes de maionese. Alguns amores perdidos.

Duas iguais. Listras de cores diferentes. Os olhos. Um arroio. Galochas de plástico para cruzar, diziam.

Armazéns antigos com gosto de mel. Vinham umas dez no saquinho.

Lagoa de areia grossa. Pintados assados de noite. Centos de pelúcias. Bóia e varanda pra saltar.

Uma casinha de madeira empoeirada com um chorão plantado na frente.

Esquentavam a bunda no fogo. Desfile de carnaval. Frio na barriga. Mãe.

Os meninos já eram meninos. Outras relações. Um chalé onde viviam baratas que eram do tamanho de pessoas. Gatinhos eram afogados no tanque. Plantações de morango.

Um trem invisível que passava de tarde, longe. Num porão assombrado.

Se amontoavam uns em cima dos outros pra dormir. A janelinha dava pro pátio. E um perfume numa caixinha verde debaixo do espelho.

Sonhos na frente da televisão. E bingo no colo.

Infinitamente maior.

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